sábado, 29 de setembro de 2012
Desta crise surge a obra, como arte, como vida ou filosofia, enquanto operação de
uma diferença, uma transmutação do vivido pessoal, permitindo extrair deste o
impessoal, ou vívido, que singulariza toda experiência tornando-a, paradoxalmente,
aberta ao compartilhamento de qualquer um e ninguém. (Elizabeth Pacheco)
domingo, 16 de setembro de 2012
Desculpa à alma
Em frente a essa tela. Brilhosa, nítida. Não
sou como uma tela, tenho curvas, sou opaca e nebulosa. Meu brilho não é pra
todos enxergarem. Meus sonhos não são para os outros acreditarem. Meus desejos
são livres e é assim que quero viver. Sou sensível, peço desculpas, mas tenho
primeiro que me desculpar. Pedir desculpas ao que andei fazendo com meu corpo,
minha pele, meus cabelos e meus sentimentos. Peço primeiro desculpas a eles que
foram estraçalhados, deixados a deriva para que outros corpos fossem desculpados.
Não quero mais outras telas brilhosas, quero meu escuro, meu outro lado meu.
Meu eu ainda, comigo. Eu me quero comigo. Não sei se isso vai bastar, mas me trará novos eus e vocês, só não posso ser só vocês.
.
Minha alma imoral. Descubro que começo e
termino por ela. Ela que me faz transgredir. E continua, toda transgressão se
não impulsionada novamente vira tradição, a alma é traída. E eis que transgrido
novamente. Para a alma quem trai é quem conserva, quem preserva sem reproduzir
a si mesmo. Sinto dores no peito e dores na alma. Entre o certo e o justo
escolho o bom, por ora. Escolho caminhar pelo mar até a água cobrir meu nariz e
então vê-lo abrir diante de mim. Dói. Dói em mim, dói em nós. Mas dói porque
todos os dias vestimos nossas roupas, mas não sabemos em quem, não sabemos onde
estamos. Só vemos a roupa, aquela capa, que insiste em tapar nossa nudez. Ficar
nu só existe no homem, esse mesmo que se mascara. Veja onde mais na natureza
está a nudez... Imbuídos de nossas tradições começa a doer quando começamos a
enxergar nossa nudez e ver que ela não acaba ali, naquilo que aparenta. Dói mas
não volta, não luta, não se joga, apenas marche. Marchemos para outro caminho.
Pra onde a dor se alimenta da transgressão e do entendimento de que dói mais
trair a si mesmo, trair a tensão entre o certo e o bom.
(lsg)
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