quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sobe e desce ladeira

Há alguns anos atrás hoje era dia de ladeira. A noite caía e lá estávamos todos. O batuque dava força para que o povo subisse e descesse a rua sem parar, até o som cessar. Eram morenas e morenos, todos um corpo só rebolando. Era gente colorida, gritando felicidade, uns com água, outros com uma dose, sem distinção de classe. A regra era sambar e esquecer o que poderia acontecer na manhã seguinte. A lei era ser feliz, ali e agora, todos juntos.
Mas as pernas cansaram... houve quem atirasse na multidão e a dispersasse. Os corações se separaram, era inverno e todos ficaram encolhidos em cantos diferentes, à sós. O calor acabou e tropeçamos na ladeira. Aquele hoje, agora é ontem e nessa quinta os fígados estão mais enjoados, as peles mais ressecadas e os ombros doloridos. Foi o tempo que passou.
E enfim chegou de novo o som para lembrar que qualquer estrago não vale nada. Os corpos novos, e mesmo os doídos, voltam a se remexer. Começamos a pintar tudo de novo. Diferente é claro: as ruas não são mais as mesmas, mudaram também as calçadas e as pessoas se descobriram novamente. E isso dá o tom daquele sobe e desce do começo. Faz parte, fazemos parte. Andamos...
lsg

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